terça-feira, julho 11, 2006

TALHÃO NÚMERO SEIS, COVA NÝUMERO SESSENTA E QUATRO (UM ANO DEPOIS)

Onde estás?Passo o Pórtico Verde e procuro por ti…Onde estás?Houve um sorriso com que uma vez me encaraste que, tudo me dizendo e trespassando-me com cruel frivolidade, me embalou no teu regaço…Queres ir hoje ao cinema? Vamos ver aquele filme..Vem daí!Passo o pórtico Verde, viro á direita…tantas flores….Onde estás?Prometeste caminhar ao meu lado. Para sempre… Fotos nunca existiram porque éramos eternos. Tu, eu, nós, o mundo…Tuas palavras seriam terna e eternamente abençoadas por Cronos, porquanto nem ante o Tempo soçobraríamos. E companheiros seríamos em velhos.Queres ir hoje à Praia? Anda!! Vamos à barrinha!Passo o pórtico verde, viro á direita, tantas flores!, viro à esquerda…uma senhora idosa, de preto, olha para mim…Onde estás?E passeámos em matos verdes de Vida sem que a Morte nos tangesse porque éramos jovens e eu, que em ti vivia, confiava que em mim nunca morrerias. E o vento que gentilmente nossas almas amainava, não nos trazia novas da Eternidade. Lá longe jaziam, calmas, as nossas esperanças.‘Bora jantar fora! Hoje! Ao Gargalo, claro!! Aquela pizza…Passo o pórtico verde, viro à direita, tantas flores!, viro à esquerda…uma senhora idosa, de preto, olha para mim…caminho…tanto mármore! Ele, crucificado, está em todo o lado olhando para mim com evidente rosto de soror…mas onde estás?Apartados nunca estivemos até que teu coração, apertando o meu, apertou-se em ti. E fugiste-me por entre os dedos como a areia daquela Praia…onde a luz tépida de Outono, pronunciando o ocaso, nos concedia a extrema-unção.Anda…vamos passear? Que tens? Tens medo? Do quê?Passo o pórtico verde, viro à direita, tantas flores!, viro à esquerda…uma senhora idosa, de preto, olha para mim…caminho…tanto mármore! Ele, crucificado, está em todo o lado olhando para mim com evidente rosto de soror. Tanto branco, tanta pedra…Encontrei-te!! Ah ...estavas aqui!!! Talhão número 6, Cova número 64…
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PS: publicação simultânea no blog Devaneios Desintéricos

2 comentários:

Dartacão disse...

Este texto tem tanto de trágico como de belo... Sempre bom rivever a sua astúcia literária, não tanto a angústia quase diária... Pese embora a força que mora em nós, já que neste mundo do relativo, alegria sem tristeza não seria alegria. Desculpa para atenuar o sofrimento? Digamos que o que é verdadeiro também pode dar jeito... Tudo uma questão de treino mental no que é e no que facilita a contigência terrena, onde o relativo impera e determina a oportunidade de demonstrarmos o que queremos ser e somos... Divagações deambulantes... Afinal, não são só as conversas que são como as cerejas, também os pensamentos...

Anónimo disse...

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