sexta-feira, julho 21, 2006

O IMPÉRIO DA VERGONHA
A vida até corria bem para Amatullah Abu Hejleh. Com 22 anos ela, e grande parte das suas melhores amigas, estudavam na Faculdade de Literatura e Ciências Humanas de Beirut, ali mesmo na Boulevard Saeb Salam, pouco antes da Estação de Correios como quem vem da Rua Er Rachidine. Diga-se até que, em abono da verdade, era das melhores alunas finalistas do Curso de Estudos de Literatura Árabe contemporânea, tendo sido convidada para ser assistente na faculdade e iniciar a sua carreira como docente universitária. Não obstante o seu nome (Amatullah, em árabe, significa "servente femininina de Alá), a jovem Hejleh até nem era muito próxima de Deus preferindo, como a melhor literatura lhe ensinara, acreditar nos homens. Sim, tinha fé....mas num mundo melhor, baseado na Justiça e na concórdia. Com o jovem sangue nas guelras, Amatullah empenhava-se fortemente nas causas que lhe mereciam atenção. Ainda há uns tempos havia estado, juntamente com o seu amigo Yussuf, em várias manifestações da Revolução dos Cedros, na sequência do assassinato do primeiro ministro Rafik Hariri. O Yussuf é um rapaz, algo mais velho que Amatullah (tem 29 anos) mas responsável e educado. Amatullah conheceu-o quando entrara para a Faculdade, era ele finalista de Estudos da Francofonia. Uma vez que não conseguiu encontrar trabalho, teve que se empregar numa empresa de transitário no Porto de Beirute, trabalhando na escrituração de carga dos navios para Atenas e Larnaca. Não lhe rendia muito mas dava para pagar a renda do pequeno apartamento que alugou no sul de Beirute, zona que, em resultado da criminalidade e até da existência de guetos de extremistas políticos, era bastante mais barata. O apartamento fica não muito longe da zona de Jisr El Bacha onde, naquela tarde de há 10 dias atrás, Amatullah se encontrou com Yussuf para juntos irem ver o novo espaço que ele alugou. Apareceram mais amigos, fez-se uma jantarada... mas a noite de Beirute já ia longa e Amatullah teve que regressar a casa, sozinha por entre os silêncios daquela rua subitamente abalados pelo estrondo ensurdecedor da morte...
Assim termina uma "estória" que, claro está, é absolutamente falsa. Mas o Estado de Israel é já responsável, só no Líbano, pelo terminus de 300 outras "estórias" verdadeiras em tudo semelhantes a esta.
____________________________________________________

3 comentários:

Dartacão disse...

Ainda que noutra moldura, estarão os conflitos do Médio Oriente para a III Guerra Mundial, assim como a Guerra Civil Espanhola estiveram para a II Guerra Mundial? O que o Homem faz/inventa no e com o tempo... Que formas mais mórbidas de entretenimento!! Caso para fazer o paralelismo: tal como mais vale estar calado, muitas vezes, mais vale também estar quieto!

Anónimo disse...

Hi! Just want to say what a nice site. Bye, see you soon.
»

Anónimo disse...

Será deveras impossível para qualquer estudante universitário não se identificar com esta "estória"... E por isso mesmo, por nos levar a ver a questão numa microrealidade (sem relegar a importância de cada vida humana) não julgo que seja a melhor abordagem para analisar essa região e a sua situação. Não lhe chamando demagogia creio, em meu entender que foge a real questão que se devia colocar remetendo-nos para uma resposta emocional, sendo precisamente esta que move as massas e que proventura não será a mais adequada para resolver este problema.

Gostei do texto, deu vida a algo que está morto por ser banal... Só falta apresentar as soluções que julgas possíveis!

Fico à espera,

Cumprimentos.