sexta-feira, dezembro 19, 2008
Obrigado, Professores.
A minha caligrafia de profissional e de pessoa é desenhada pelas vossas letras.
Obrigado, Amigos.
Pelos trampolins, com e sem rede.
Obrigado, Beatriz.
Afinal, 'para ver o Filipe feliz, era só falar na Beatriz'.
Simbiose até nos nomes. Filipe. Beatriz. Feliz.
Porque a noite de ontem, de re-encontros, deixou aquilo no ar.
Aquilo que paira, que não tem como, onde nem porquê.
Aquilo a que chamam felicidade.
Porque ontem é ante-ontem, hoje e amanhã.
Porque o homenzinho re-inventa-se e salva-se ainda com o menino de treze anos.
terça-feira, dezembro 09, 2008
Quem não sabe quem é a Marie Janine, vide posts de Novembro e Dezembro de 2006.
Não gosto de publicitar as minhas viagens. Quer por texto. Quer por fotografias. Quer por conversas de café forçadas. Por norma. Apesar da forte tendência a repeti-las. Porque uma viagem é mais interior do que exterior. Provavelmente. Para mim. E porque sou mais leal aos meus. Amores. Felicidades. E mais fiel às minhas. Paixões. Alegrias.
Voltei a Paris. Quarta vez. A terceira foi um ano. Ao chegar, não me senti euforico. Nem indiferente. Expectante. Talvez. Para aprofundar melhor o que significou um ano. Ca. Com a distancia devida... Porquê algo apatico?
Medo de uma invasão nostalgica. Talvez. Nostalgia de me ter debruçado afincadamente sobre o meu parapeito. Essencialmente. De ter escrito mais poemas num ano do que em cada um dos anos anteriores. De ter vindo à procura de nada. E de tudo. De ter querido estar so. Depois de anos a ter deixado que me roubassem importante parte do tempo do meu âmago. E querido que me roubassem. Verdade seja dita. E de ca não ter querido comprar papel absorvente. Com desintoxicação internética. O paradigma do simplesmente so. Mas bem. Muito bem. O niilismo pleno. O inadvertismo pensado. A loucura. A liberdade. A felicidade. Não tanto a alegria.
Por nunca ter saido desta casa. Efectivamente. Talvez. Sim! Vivo os cheiros sem os cheirar. As pontes que guiei de bicicleta inumeras vezes sem as atravesar. As pedras que pisei sem as sapatilhar. As luzes sem as vislumbrar. A rede das ruas sem as rolar e sem me enganar. O vento pedalado sem me entranhar. A relva sem me deitar. O cheiro do RER. O truc-truc e o pfffuuum do para e arranca do metro. As fachadas. O melting pot à Parisiense. O esteticismo Frrranciu. Com mais ou menos classe. O monumentalismo ecléctico. As conversas. As caras. Nos sitios precisos (o revaldo de Champs de Mars esta agora vedado e a torre mascara-se durante a noite de azul com doze estrelas amarelas para orgulhar a Presidência Europeia). As divagações deambulantes. Os silêncios rejuvenescedores. As evasões. Condensadas. E diluidas. Estou de volta. E até da distribuição das prateleiras e dos produtos do supermercado me lembro. Das senhoras da caixa. Da rapariga 'das' crepes. E ha quem se lembre de mim. E não é pouco. Porque a essência, boa ou ma, paira, forte e certeira, entre os atentos. E consegue chegar.
Por ser Dezembro? Possivelmente. Não é o meu mês. Por certo. Para ja. Mas para saber o que é, tem-se de saber o que não é. E assim a expansão nasce com mais força depois da retracção. Um solo que não descansa ou onde não cai merda (a minimamente suficiente, por favor) é um solo esgotado. Potencialmente. E porque apercebi-me. Ao chegar. Que hoje não seria capaz de viver aqui. Mais de dois anos. No maximo. Ao contrario do que havia pensado outrora. Não apenas por causa de Dezembro e meses afins locais. Mas também. E pode ser que o mês esfrie os ânimos. Ha um lado positivo. (Quase) sempre. Afinal. E' uma questão de foco.
Estava melancolico. No terceiro dia. Uma melancolica de ter medo da propria existência. Fora o pleonasmo. Felizmente. Porque não sou nada masoquista. Raras e passageiras. As melancolicas. Ainda assim melindrosas. E muito. Coração que se sente enjaulado. Quanto mais bate. Mais apertado. Porque expande-se. Ao contrario das grades da jaula. E doi. E não é pouco. Dois terços de dia de melancolia. Na passagem do segundo para o terceiro terço, um rasgo. Chamado Marie Janine. Truz truz. Voilà. Porta reaberta. E aquele belo apartamento. Ao nivel dos telhados de toda a Paris. Com paredes decoradas ao centimetro. A' mão. Novamente meu. Dois copos de vinho do Porto. Alguns biscoitos. Dois sofas. E novas confissoes. Que entraram sem pedir licença. Profundas. Escondidas no escondedouro do esconderijo. Da amiga para o amigo. Sem importância de idades. Nacionalidades. Susceptibilidades. Ou outras ades. Comunhão de seres. - 'Posso pedir-te uma coisa?'. - 'Sim, claro'. - 'Tocas-me um pouco de piano?'. Pim pam pum psi pum pam pim. Uma perna dançarina. Dois ombros e um pescoço timidamente balançados. E um meio abraço de aura. Muito obrigado e felicitações à pianista auto-didacta. Sem pautas. De ouvido. Jantar em baixo. No restaurante da esquina. Esta frio para repetir o jantar no terraço do inicio de Verao de 2007. Mas ainda sinto o calor. A bebedeira que ambos apanhamos. Mais uma. A banda sonora cuja clave de sol foram as nossas conversas. As luzes de toda a Paris que se foram acendendo para nos. Mas agora no restaurante de toldo verde. Na esquina. Em baixo. E mais banda sonora. Sem bebedeira desta vez. Por ela quero voltar a Paris. Por ela ficaria em Paris. Ela, a Marie Janine. Não a bebedeira. E naquele momento, (re)apercebi-me que são essencialmente as pessoas que fazem os lugares concretos. Não os virtuais. E as recordaçoes. Mas não me arrependo nada dos quilometros e quilometros solitarios. No fundo, os extremos podem construir o equilibrio. Frequentemente, no teatro, experimenta-se a priori os exageros, incluindo dos clichés, para depois conseguir uma cena mais harmoniosa, limpa e generosa. E hoje partilho melhor as minhas casas porque desarrumei-as para re-arruma-las. Sem pressa. Sem grandes diarreias verbais. Mas no caminho do âmago. Afinal, no mesmo ponto passam infinitas rectas. Mas o ponto é a sua intersecção. So esta semana soube a sua idade. Setenta e nove anos. E fiquei contente. Por ter um banho de experiência de pessoa mais jovial do que outras pessoas mais novas de idade que conheço. Do que eu. Possivelmente. Por so ter sabido a sua idade cronologica passados mais de dois anos de a ter conhecido. Principalmente. E durante estes dois anos, a gravura que representa o nosso encontro, La brève rencontre, tem sido presença assidua no atelier, no apartamento principal, no apartamento secundario, em todas as exposiçoes. Como aquela a que fui ontem. E no meu quarto no Sul. E' preciso dizer que gosta de mim? Faz-me lembrar da minha madrinha. Parca nas palavras. Plena nas atitudes. E por isso, o rapazinho não via o quanto ela gostava dele. E mesmo que ela não fosse parca nas palavras... Ele tenderia a pensar que era por mera simpatia. So anos mais tarde, ao entrar no quarto dela, no leito da sua morte terrena, é que o homenzinho se apercebeu do quanto ela gostava dele. Ao ver fotografias do menino e do rapazinho espalhadas pelas prateleiras. E continua. A gostar. Do homenzinho. Agora. Faz-me também lembrar da algebra dos nascimentos na minha familia genetica. A minha mãe tinha onze anos quando o meu tio nasceu. O meu tio tinha os mesmos quando eu acordei para o mundo. O meu primo e primeiro afilhado (de sete - gosto do numero) veio um ano depois de eu ter dobrado a esquina da primeira decada cronologica. E o meu primo ganhou um irmão na mesma esquina. Somos pais aos vinte e dois anos. E aos trinta e três. Incluindo a minha querida avo. Dei a senha dos meus vinte e dois aos trinta e três do meu tio. Faltam-me sete para os trinta e três. Sete. Gosto. E fez-me lembrar porque na algebra das minhas melhores amigas de Paris, ha o intervalo aberto dos vinte. Trinta e nove. Magrebina instalada em Paris. Cinquenta e nove. Francesa obrigada a Paris. Setenta e nove. Parisiense pura. Marie Janine. A maioria dos teus cadernos continua por preencher. O meu esta preeenchido. Quase todo. Espirtitualidades? Creio que sim.
Na verdade, e segundo teorias actuais que reclamam o fim contemporâneo da adolescência aos vinte e quatro anos, Paris podera ter sido tão importante também pela coincidência (?) da passagem à vida adulta - o esclarecimento e afirmaçao efectiva, leia-se traduzida em actos, do que queremos ser, para onde queremos ir. Sem vergonhas. De nos. Ou perante os outros. Ainda que a portagem implicita da afirmação do ser seja importante quando decidimos entre virar à esquerda, direita, direrda, esqueita... Não raramente. Os argumentos postos em e à prova são mais maduros. Paris. Um sopro de existência. Re-invenção. Uma pegada no tempo. Mais uma linha do que recta. Fica aqui. Mas vem comigo.
Não somente, mas mais um amor do que uma paixão... Quarta vez e quartas descobertas, parecidas às infinitas diarias de outrora. Hoje. Afinal. Porque o tempo é uma espiral e os lugares sitios de cordas. E o amor... Ai o amor...
Aparições. Uma diaspora em afunilamento ecléctico. Ampulheta.
PS - A falta de acentos é culpa do teclado frrranciu.
sexta-feira, novembro 21, 2008
De filho para pai.
segunda-feira, outubro 27, 2008
sexta-feira, outubro 24, 2008
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
Alberto Caeiro
in O Guardador de Rebanhos
sábado, outubro 04, 2008
(Que amor é o que se conhece, vive e cresce forçado? Amor? Não se procura, encontra-se... Não se mendiga, porque não somos gratuitos. Flui, como um rio do vale até se tornar infinito, no horizonte, em mar ou oceano, ainda que atrás entrecortado pelo relevo, mas nunca rasgado ou esventrado adiante, apesar de mais ou menos ondulado... Mas as ondas dão a espuma e a graça do movimento.)
terça-feira, setembro 30, 2008
sexta-feira, setembro 19, 2008
quinta-feira, agosto 14, 2008
terça-feira, julho 29, 2008
quinta-feira, junho 19, 2008
Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada
Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor
Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver
Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual
Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal
Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser
Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal
Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti
Alexandre O'Neill
(provavelmente, o mais bonito poema da Língua Portuguesa)
domingo, junho 01, 2008
sábado, março 29, 2008
Por que será que o arrependimento apenas bate
depois de tudo o que era já não ser,
depois do primeiro a chegar já ter ido?
Ao fim de cada pegada perpetuamente marcada?
Durante toda esta balada que nos envolve
e que por um sol, por uma lua e por cada estrela,
que já não é, ficamos irrequietamente quietos,
Insorridentes e sujeitos ao sonho desesperado?
Ai se tudo fosse como eu sonharia...
Por cada pedrinha e por cada sorriso lançado ao acaso,
tudo faria renascer e florescer,
mas não do modo como para aí ditam!
E todo este culminar de maldições e contradições,
medroso fugiria. E o que restaria?
Essa fuga constante do passado e de cada erguer!
Ai quem me dera...
Recuperar tudo o que deixei e por menos desejei,
Ai quem me dera...
Extinguir esta sensação de perda e vazio
e, por fim, atingir essa autêntica busca do ser eu meu
e esquecer este ponto sem retorno e, embalado no sonho,
saborear cada momento como sendo o derradeiro.
Ó destino, meu caro, repara na razia em que insistes!
Não! Já sei! Tira-me tudo o que queiras e não queiras:
A memória, as recordações e até a saudade do amanhã!
Tira-me tudo o que tenho e não tenho!
Nada de mais me vale, afinal, tudo fugiu, tudo se escapou,
e, porque além de tudo e de todos, prefiro cair no imemorável
a continuar nesta agreste tristeza e desesperante realidade.
E por fim, nada resta! Tudo cresce, tudo se multiplica.
E o que sobra? É esse mar negro infinito de dor e vividos.
E quando finalmente te busquei, o que encontrei?
Tudo menos nada!
E agora, chamem-me louco, chamem-me tudo!
Alto! Tudo menos tonto ou tapado!
E mais! Aquilo que sou é apenas aquilo que sinto e sucinto!
quinta-feira, março 20, 2008
Até já, inspiração!
quarta-feira, março 12, 2008
...que já data de 2005. Mas quando a publicidade é boa, nunca é tarde para um bom momento de humor!
[Também publicado no Devaneios Desintéricos bem como no subsidiário Devaneios LGBT.]