'DESEJO-TE SAÚDE, ACIMA DE TUDO'
Conforme decidido na sua 'fundação', este blogue é amplo na abrangência de conteúdos que aborda. Para não dizer global. Coincidência curiosa o término do meu curso com alguma agitação em torno de 'mexidas' na classe médica. Não raramente, as notícias sobre Saúde correspondem a uma significativa percentagem do total dos jornais (de papel ou não), constituindo igualmente banais assuntos de conversas (mais ou menos leigas, mais ou menos 'pseudo'). Por vezes, deixo alguns comentários nas notícias do Público, principalmente sobre Política e Ecologia. Hoje, finalmente, deixei um comentário sobre Saúde, a propósito da possibilidade da imposição dos regimes de exclusividade relativamente aos Sectores de Saúde, Público e Privado. Impressionante a quantidade de opiniões publicadas, em tão pouco tempo, comparativamente aos demais assuntos, extra Saúde. Curiosa ou não, também a coincidência de um dos meus trabalhos de investigação, aquando da conclusão do mestrado, ser baseado nesta dualidade: Sistema Nacional de Saúde versus Sector Privado de Cuidados de Saúde. Eis o que gostaria de partilhar convosco (de facto, a aceitação de comentários no site do Público é dúbia):
Tenho lido vários comentários anti médicos (o que não constato curiosamente nos Hospitais ou nos Centros de Saúde, in loco). Gostava que se tivesse noção do elevado número de doentes por médico (no Sector Público), do quão difícil é a formação dos médicos (as resistências - intelectual, emocional, psicológica, física - embora cursem com meios de experiência enriquecedores, a vários níveis), de o facto de ser uma profissão (em geral) de elevado risco, das circunstâncias de trabalho, do stress, etc... Não digo que não haja outras profissões com 'carga' semelhante e que não haja maus profissionais (é global em todas as profissões), mas tem de haver efectivamente contrapartidas, sejam elas no Sector Público sejam no Sector Privado. Afinal, trabalhar é bom, mas não apenas para 'aquecer'. Em vez de se obrigar a exclusividade num dos dois sectores, talvez fosse mais interessante colocar metas laborais (nº de consultas, nº de cirurgias, nº de doentes na enfermaria, nº de técnicas efectuadas, etc, conciliando com parâmetros de qualidade), adequadas a cada contexto, nomeadamente especialidade e contrato laboral individual ou colectivo (como nas recentes Unidades de Saúde Familiar), no Sector Público. Consoante o atingimento de metas (sem que sejam pedidos objectivos de execução impossível), a devida compensação. E também porque não vislumbro médicos a terem duas profissões, ou seja, qualquer funcionário público pode ter um segundo emprego, além daquele que o Estado lhe proporciona, mas vamos criar um factor de discriminação negativa para os médicos? E reitero os comentários que sublinham o facto de PORTUGAL TER O 12º MELHOR SISTEMA DE SAÚDE DO MUNDO, segundo a OMS - Organização Mundial de Saúde (http://www.photius.com/rankings/healthranks.html). Será irrelevante o papel dos médicos para tal? Arrogância à parte e sendo muito pragmático, nem sempre as pessoas (leigas) estão na posse dos critérios mais válidos de avaliação: melhor um médico que cura e é menos presente ou um médico que segura a mão do doente enquanto o deixa morrer ou não lhe permite o melhor alívio, tecnicamente possível? (Bem, o querer ser curado pode ser relativo, é verdade...)
Como tinha limite de caracteres na redacção do comentário no Público, acrescento aqui:
Sobre este último raciocínio, dois pontos: há doentes que se tratam melhor com médicos arrogantes e autoritários e outros com médicos 'melosos'; segundo, em qualquer área, um leigo dificilmente legitima (genericamente) a capacidade técnica de um profissional efectivamente qualificado (mesmo com a actual sociedade de informação, porque esta 'pode abrir janelas, ainda que nem sempre certas, mas dificilmente proporciona as casas inteiras'). Neste sentido, é mentira que acontece não haver tratamento com alguma frequência significativa, o que pode constituir uma 'desculpa' para as correntes humanistas: o tratamento curativo, nem sempre possível, não invalida o recurso ao sintomatológico (nem sempre farmacológico), existente em '99,9%' das vezes, residindo aqui um dos 'fascínios' da relação médico-doente. Assim, sobrevém que cada doente é um doente, devendo o médico ser o mais perspicaz e adaptado possível em cada avaliação e plano de actuação que efectua.
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