sábado, outubro 04, 2008

- O que é o Amor? - perguntou um aluno na sala de aula.

A professora sentiu que a pergunta merecia uma resposta à altura. E como estava na hora do recreio, pediu que cada criança voltasse para a aula com algo que despertasse o sentimento do amor. As crianças saíram, apressadas, para procurar. De regresso, pediu que mostrassem o que tinham trazido:

- Trouxe uma flor, não é linda? - disse uma criança.

- Trouxe esta borboleta, vou colocá-la na minha colecção - disse outra.

E, assim, foram colocando na mesa tudo o que tinham encontrado. Mas a professora reparou numa aluna, quieta ao canto da sala, sem nada nas mãos.

- Por que não trouxeste nada? - perguntou-lhe.

- Desculpe, professora. Vi a flor, mas senti o seu perfume e preferi não arrancá-la para que cheirasse por mais tempo... Vi a borboleta, mas estava tão feliz que não tive coragem de trazê-la... Vi também um filhote de passarinho caído entre as folhas, mas preferi pô-lo no ninho...

A professora deu um beijo doce à criança, pois ela tinha percebido. O Amor significa Liberdade!

(Que amor é o que se conhece, vive e cresce forçado? Amor? Não se procura, encontra-se... Não se mendiga, porque não somos gratuitos. Flui, como um rio do vale até se tornar infinito, no horizonte, em mar ou oceano, ainda que atrás entrecortado pelo relevo, mas nunca rasgado ou esventrado adiante, apesar de mais ou menos ondulado... Mas as ondas dão a espuma e a graça do movimento.)

16 comentários:

Anónimo disse...

lindo...simplesmente lindo!
o amor é tudo isso e muito mais
dar sem esperar receber nada em troca, saber fazer feliz o outro e deixar que o façam feliz,saber abdicar de algo, dar a liberdade precisa... tudo isso faz parte do grande sentimento denominado AMOR

Dartacão disse...

Obg. :)

Sim. O amor desagua em nós em momentos de 'aparição' de contemplação, desde por uma pedra que é contornada pela silhueta sensual da água de um riacho até ao Universo que é uma pessoa... (Universo que não se desvenda de ontem para hoje, ao contrário do que a 'montanha russa', chamada paixão, nos tenta iludir). Momentos de invasão de união pela infinidade, simplicidade e eternidade... Se o mundo acabasse ali, morreríamos (fisicamente)... Em comunhão absoluta.

Mas também não acredito no amor não egocentrico (diferente de egoísmo), porque ele também existe para que afirmemos quem somos e quem queremos ser. Talvez por este cariz de relatividade, o amor seja, por vezes, contraditório. Pelo menos, aparentemente... E a base de todo o amor é o amor por nós próprios e daí que liberdade não rime com libertinagem, lealdade não case com fidelidade e posse não encaixe em união, aqui.

Já dizia Shakespeare:

"Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E aprendes que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começas a aprender que beijos não são contratos, e presentes não são promessas.
E não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai ferir-te de vez em quando e precisas perdoá-la por isso.
Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobres que se levam anos para se construir confiança e apenas segundos para
destruí-la, e que podes fazer coisas num instante, das quais te arrependerás pelo resto da vida.
Aprendes que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E que o que importa não é o que tu tens na vida, mas quem tens na vida.
Descobres que as pessoas com quem mais te importas na vida, são tiradas de ti
muito depressa; por isso, devemos sempre deixar as pessoas que amamos com palavras de amor; pode ser a última vez que as vemos!
Aprendes que paciência requer muita prática.
Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas isso
não te dá o direito de seres cruel.
Aprendes que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém. Algumas vezes,
tens que aprender a perdoar-te a ti mesmo.
Aprendes que com a mesma severidade com que julgas, tu serás, em algum momento, condenado.
Aprendes que não importa em quantos pedaços teu coração foi partido, o mundo não pára para que o consertes.
E, finalmente, aprendes que o tempo, não é algo que possa voltar para trás.
Portanto, planta o teu jardim e decora tua alma, ao invés de esperar que alguém te traga flores.
E perceberás que realmente consegues suportar... que realmente és forte, e que
podes ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor, e que tu tens valor diante da vida!
E que só o medo de tentar nos faz perder as coisas boas que poderíamos conquistar!"

PS - 'Você desagua em mim e eu oceano. Esqueço que amar é quase uma dor'. :) (pus-me a ouvir esta canção, entretanto lol)

Pedro Fitch disse...

"Because You Loved Me", a ouvir. Ajuda a conhecer mais uma das facetas do amor: a força, o apoio, o estar lá. Sempre livre.

Dartacão disse...

Confesso que me senti tentado a verificar de que canção se tratava. Embora possa parecer um hino à dependência embrulhada no amor (a canção), há um verso que desmistifica o sentido aparente (adoro estas chaves subtis e escondidas do aparente): 'You gave me wings and made me fly', i.e., não voar por alguém mas dar-lhe asas para que voe livreeee... E lá caimos (bem)na liberdade. :)

Curioso: quando gostamos, quando nos apaixonamos(mais aqui), quando amamos, toleramos melhor as pieguices, as pirosices, as lamechices. LOL Até somos capaz de ouvir Céline Dion, que noutras alturas nos faria mudar logo de frequência no rádio do carro (se bem que o dueto com o Andrea Bocelli é sempre o dueto com a voz de Deus). LOL

Bem, Fitch.... Ainda pensam que estamos loucamente apaixonados um pelo outro!!! Efeito 'loved up' retardado??? ahah

Dartacão disse...

PS:

'You're the one who saw me through, through it all.'

Eu sei que a frase da canção pode parecer pirosamente pirosa...

Mas na equação multipartida do Amor, em espiral (do tempo):

Liberdade <--> (Hetero e Auto) Sinceridade <--> CONFIANÇA Liberdade <--> (Hetero e Auto) Sinceridade <--> CONFIANÇA Liberdade <--> (Hetero e Auto) Sinceridade <--> CONFIANÇALiberdade <--> (Hetero e Auto) Sinceridade <--> CONFIANÇA ...............

Confiança na empatia, confiança na partilha, confiança no essencial, confiança no invisível de um olhar, de um gesto, de um sorriso, de um passo... Confiança que se constrói e que constrói: o cimento de uma casa, cuja construção não deve ser iniciada pelo tecto.

Há dias, dizia-me um amigo, durante um belo almoço de amizade: 'segundo um estudo, do que as pessoas se lembram no leito da morte (física) é das pessoas que lhes foram importantes'. Se o amor e a amizade (uma forma de amor) não forem a sua casa...?!?... Acho que começo a (re)perceber melhor a razão e a beleza da sua existência.

PS2 - Não, não creio que seja um momento meu de 'pirocise'. lol Fazemos as perguntas e, de alguma forma, obtemos as respostas (diz uma grande e vivida amiga minha, que devem ser pelo menos 7 - as respotas; por acaso, gosto do número Eu e 777777777777777777777777777777... pessoas! Apesar de preferir o 3... essa de haver só dois pólos... hummm, torço o nariz... lol). :)

Anónimo disse...

Não interessa tanto a quem damos o amor_mas sim o amor em si.

A paixão meramente direccional tende a refrear com o passar do tempo, no fulgor vago das obsessões.

O amor acorda connosco todos os dias, ultrapassa o platonismo dos ídolos e os episódios sórdidos da desilusão.

É óbvio que é uma coisa feita de pessoas_por e para pessoas, por isso é fiável e ao mesmo tempo falível, esclavagista, humano. Libertador. Mas será SÓ, será APENAS?

Não. A Luz e a Beleza são propriedade privada_tão somente existem nos olhos de quem vê. Já dizia Lavoisier que "na Natureza, nada se Cria, nada se Perde, TUDO se Tranforma".

Mais que o amor, a Beleza impera no caminho para a perfeição. Porque o tempo é feito de momentos e o que é o amor,

senão aquilo que entregamos incondiconalmente às

Coisas Belas,

nossa adoradas?

para seu uso e RE-uso.

O amor é o brilho nuns olhos que vêem outros olhos. É o IR, sem haver a certeza do VOLTAR. É esquecer o QUANDO, não saber ao certo o PORQUÊ, na impossibilidade de medir o QUANTO, porque é

TANTO, mas TANTO.

Tanto amor e tão pouco, apanágio irresistível do "let go". Como num crime passional_ se te amo é porque te amo

demais,

ou somente poque não te amo

o suficiente?

(ah ah ah, 7 é o meu número favorito...não fosse eu nascida num dia 7;
concordo plenamente com a tua amiga,
quiça existam 7 vidas
7 verdades
7 oportunidades...

se não MAIS, é claro.)

Oxalá.

Anónimo disse...

"não se mendiga, porque não somos gratuitos."

:)

tanto para aprender, tanto para ensinar,
TANTO,
que nem se sabe ao certo o
QUANTO.

Dartacão disse...

Mémé! Obg! :)

‘A QUEM damos o amor’: como dizia num comentário anterior, o Amor pode até brotar da e na contemplação da silhueta sensual de um riacho que contorna uma pedra. Por isso, atrevo-me mesmo a chamar-lhe um estado de espírito que tende para o infinito no seu objecto (quantas vezes não nos condensamos no e para o fim do Universo quando amamos? Abraçando a sua plenitude, em comunhão e perfeição…), na sua intensidade (é tal que nos anestesiamos e sentimos o tempo parar e deixamos de ter medo dele – do tempo - e… Por isso, poderíamos morrer ali, felizes…) e no seu fim (que não tem a ver com uma meta em si, como dizes, mas antes com um caminho de abrangência, de compreensão, de paz de espírito; não me canso de citar Miguel Torga: ‘Em qualquer aventura,/ O que importa é partir, não é chegar’). No fundo, o estado espiritual de união de todos os infinitos do Universo (fora o pleonasmo ;)).

‘Paixão meramente direccional’? Sim! Redutora, a paixão! Ao contrário do Amor… Já sabia que a etimologia era ‘pathos’ (patológico, em Grego), mas acrescento:

do Lat. passione, sofrimento
s. f.,
sentimento excessivo;
amor ardente;
afecto violento;
entusiasmo;
cólera;
grande mágoa;
vício dominador;
alucinação;
sofrimento intenso e prolongado;
parcialidade;
o martírio de Cristo ou dos Santos martirizados;
parte do Evangelho em que se narra a Paixão de Cristo;
colorido, expressão viva, em literatura.

Apesar de este cenário encaixar na paisagem do Amor, porque conforme defendi Amor é um estado de espírito de união e comunhão do infinito, não creio que a paixão seja o âmago do amor, mas antes alguma daquela espuma ou algumas daquelas ondas do mar, do oceano (como o refrão de uma bela música que nos prende a primeira vez, mas não para sempre, já que a seguir descobrimos os subtis acordes que mantêm a paixão pelo refrão e por toda a música). E porque a paixão é frenética, é ilusória, é obsessiva, é desconcertante, emocionalmente linda, mas não raramente devastadora racionalmente (e emocionalmente por arrasto, porque a lucidez também faz queimar o peito). Pois se, com as honrosas excepções, nos faz amar à pressa e aparentemente a ficção dos nossos sentimentos e, por carências circunstanciais, a ‘parra’ em vez da ‘uva’ (já diz o provérbio – ‘quem feio ama, bonito lhe parece’ – o problema não é o ‘feio’ mas o ‘parece’)… E quando não se curam, as paixões são barragens do tal rio que deveria fluir espontaneamente para o mar ou para o oceano… A maior parte dos rios não as consegue contornar e, quando teimosamente as tenta rebentar, as relações tornam-se ralações, pelo que ou por quem quer que seja. A verdade é que há cada vez menos rios como antigamente (e aumentam os virtuais, os facilmente fantasiosos mas menos gratificantes…): construimos barragens que nos param no aqui e agora, vedando-nos o caminho para o horizonte amplo dos mares e dos oceanos. Sim, a paixão do descartável, do fácil, do redutor, do incompleto, do conhecido afinal desconhecido, do virtual mesmo!… Porque o medo saiu à rua e é mais fácil viver várias vidas do que uma vida… Como num jogo de computador: começa; recomeça; começa; recomeça; começa……… É só premir o botão. Mas o tempo passa e onde estão os botões das barragens dos nossos rios? Entretanto, AS paixões, que começam a parir cada vez mais paixonetas, e todas vêm e vão, esquecem-se de tratar de outro filho, O Amor. E o tempo para construir uma bela casa passa…

Oxalá do Árabe ‘Insh’Allá’ – Deus queira. Deus quer o que queremos… Só temos de saber o queremos. Ainda que possa parecer muito, tanto, quanto… Difícil e impossível não são sinónimos. E fácil rima (em regra) com banal, mas não tanto com gratificante… Somos todos Deus. :)

Dartacão disse...

Pequenas correcções num comentário anterior, na equação multipartida, espiral do tempo e cimento da 'casa':

Liberdade <--> (Hetero e Auto) Sinceridade <--> CONFIANÇA <--> Liberdade <--> (Hetero e Auto) Sinceridade <--> CONFIANÇA <--> Liberdade <--> (Hetero e Auto) Sinceridade <--> CONFIANÇA <--> Liberdade <--> (Hetero e Auto) Sinceridade <--> CONFIANÇA <--> ...............

Anónimo disse...

É avassaladoramente fascinante, "discutir" contigo.Parece um mar de prosa infinita mas e de conteúdo_ é tão mais fácil escrever poesia para enlamear os sentidos; o fascínio de duas ou três frases soltas a ecoar no vazio. Não reduzo a poesia a um estado de espírito brilhante, mas há maior dificuldade em prender o leitor a um texto em prosa, até ao fim, no sentido de o devorar, parar, voltar a ler, até tentar sorvê-lo ao tutano, absorver o máximo possível. Os teus textos são assim_ não o tomes meramente como um elogio, porque os elogios raramente se desligam de uma segunda intenção. Toma-o como uma constatação.

"é mais fácil viver várias vidas do que uma vida" é certo! mas difícil, e bem mais difícil, é viver apenas uma com a consciência de se desejarem várias: se o Homem não sair da caverna, nunca terá a menor consciência do que é galgar os campos amargos do Mundo das Ideias de Platão. Também nunca descobrirá a luz extasiante, essa que permite morrer ali, de que tu falas, porque no Mundo não haverá sentimento mais abrangente de plenitude, contemplação, orgasmo completo dos sentidos_ acaso será essa a felicidade_ acaso valerá o preço demasiado alto que por vezes pagamos por ela.

Estou convencida que sim. A vida vale os pequenos momentos de epifania_ aqueles em que sentimos o coração na boca e a cabeça no coração.

É preciso conhcer a mais profunda escuridão, para tirar o melhor partido da luz - quiça não nos condenemos nós, ao nosso próprio sofrimento. Mas é tão bom viver! A VIDA É IRREMEDIAVELMENTE BELA!

Amar excessivamente é quase tão perigoso como não amar de todo_ é um risco intrínseco ao próprio. No fundo, o sentimento de indiferença não passa de mera cobardia, um proteger dos sentimentos contra ataques do exterior.

Quem não chora não poderá ver a Beleza_ apenas e tão só porque não saberá reconhecê-la.

Amar não é equilibrar, é (des)equilibrar_ pintar de cor e intensidade a monotonia_ ainda que este sentimento não dure PARA sempre (sendo que sempre devia ser uma palavra abolida do dicionário).

Amar é procurar o início, quem sabe colapsar no fim, como um dia ocorrerá ao nosso Sol_ o alfa e o ómega são deveras mais auspiciosos (e deliciosos) que as eras intermédias. Não se pode definir o amor, mas penso que estás certo quando dizes que é um estado de espírito, desta feita permanente.

E porque não, amar até ao limite do humanamente concebível?

Talvez existam, as almas gémeas_ eu espero que sim. Há um vazio sempre demasiado grande no caminho, talvez um dia possa ser preenchido: obedecer aos seus desejos, ou deixar que este obedeça aos nossos.

No mundo das perguntas, não há respostas e é bom que assim seja. Não percebo porque consideramos a segunda sempre mais valiosa.

"quando Deus criou o Mundo, partiu o ser humano em duas metades, e enviou-as para partes dstintas" como um deus castigador, talvez por não ser portador do utopismo do homem_ a sua capacidade de acreditar. Desde então, elas tendem uma para a outra, como um infinitésimo tende irrevogavelmente para zero.

O Deus-dos-Átomos-presente-nas-Pequenas-Coisas.

Sim, fifi :)

Deus somos nós.

PARA SEMPRE.

Anónimo disse...

e agora vou responder à minha própria questão_

se te mato, é porque não te amo o suficiente. Afinal, amar é colocar o outro acima dos nossos próprios interesses_ mas isso não nos livra do egoísmo sórdido, ao imaginar a vida em diante, sem o objecto perdilecto das nossas paixões.

se te mato, é porque te amo demais_ talvez no sentido de te libertar dos meus caprichos? talvez por não ser capaz de encaixar o "to be" ou o "let go". Não consigo imaginar maior rasgo de egocentrismo.

talvez se te amar demais me mate_ ou talvez coexista pacificamente com a negação desse amor.

Aposto na última, se conseguir ultrapassar a barreira da "meta", em prol do "caminho de abrangência".

"Ela, a Felicidade,
está aqui."

Tomara, que eu um dia me livre do "oxalá".

;)

Dartacão disse...

Mémé! :)

Há uns anos, embora sem esrever tão bem como tu, seria capaz de escrever mais ou menos o mesmo. Fruto da idade e/ou das experiências de vida? Sei que sim. Ou talvez uma questão de semântica apenas: se paixão e Amor são quase o mesmo (de acordo com a tua descrição versus os meus conceitos), o que há acima de Amor? Ou a tua descrição corresponde ou à tal 'comunhão e perfeição' e estas não têm outro nome, mais sulime, absoluto?

Dá-me o tempo necessário para aguçar a discussão.

Enquanto nova lenha minha não sai para manter esta fogueira, talvez o mote (um dos poemas fundadores deste blog - e porque também prefiro escrever em poesia, sentido que a prosa são 'finos grãos de areia que me escapam entre os dedos') das minhas próximas linhas (lenha) face às tuas (lenha):


PIXÉIS

Somos complexos
Mas (E) o processo de simplificação
É aliciante e gos (cus) toso…
Com o andar da e na vida
E como sinónimo de maturidade
Ganhamos serenidade perante a complexidade
O que significa simplificação.
Vai-se doseando energia,
Arrefecendo o calor
Produzido pela corrente eléctrica
Ao longo das redes neuronais
Do córtex cerebral
E do sangue mais bombeado
Consoante o coração mais bate:
O segredo não está em passar frequentemente
Pelo mesmo ponto através das
Infinitas rectas que o intersectam
Mas agarrar nos pontos
E compor o nosso desenho.
Compor; compor – fazer; fazer- agir…
A acção é inimiga do pensamento:
Enquanto ligam o interruptor
Dos neurónios motores
Os neurónios pensantes distraem-se
E não discutem entre si
Na sua apertada amálgama craniana
De sons, cheiros, toques, cores e formas
Intuições, percepções, raciocínios, teorias
Mas também de emoções, sentimentos, afectos.
Um lirismo hipotético-expositivo-argumentativo
(que palavrão! lol)
Para explicar como os pés e/ou as mãos
(conforme andemos de pé ou de gatas
ou simplesmente façamos)
Acalmam a complexidade explosiva da vida?
Já que com eles o desenho ganha pixéis
E nós perdemos miopia ou astigmatismo
Pelo acréscimo de pontos e
Pela diminuição de rectas num ponto.
(há quem veja ao longe
também aqueles que aproximam a vista com binóculos
há quem não precise de óculos ao perto
e outros que apenas com o tempo…
Ou não…
Processo inversamente proporcional ao número de pixéis!)

PS - Sem querer abusar:

ALMAS DE BARRIGA VAZIA, NÃO FAMINTAS DE SI

Sonho despertado
Incógnito conhecimento
Sentido sem tocar.

Ter sem possuir
Um gozo contido
Que aproxima e desanda.

Ver observando
Braços que batem asas
Pernas que se cravam.

Na liberdade que se amarra
Ouvir escutando
A voz que grita amordaçada.

Beijo entornado
Desesperado, escondido
No alento de um abraço atrapalhado.

Sementes
Regadas e criadas
No cais atiradas ao vai e vem.

Mergulho na gema da terra
Queda para o céu fechado
Trampolins sem rede.

Dor
Amiga sincera
Fere para salvar.

Despido e chicoteado
O alvo na cruz
Pela rusga resgatado.

Rosa sem pétalas
Beleza gasta
Poupada a essência.

Na aparição de um ponto
Universo absurdo de significados
O tempo tropeça por minutos.

Almas de barriga vazia
Não famintas de si
Sedentas de um sonho passado.
Hoje armadilhado
Nas memórias de um futuro
Para sempre amedrontado?

Culpa da paixão
Gaiola sem pássaros
Fugaz gaiata
Do encontro fortuito
Entre a montanha russa
E o grego pathos?

Ou todos os caminhos
Vão dar a Roma
Porque são difíceis
Mas valiosos espelhos
Dos trilhos da corrente
Amor?

Coração sóbrio…

Dartacão disse...

Esta mania de ser espontâneo dá erros a escrever:

Ou a tua descrição corresponde à tal 'comunhão e perfeição' e estas não têm outro nome, mais sulime, absoluto? (o 'ou' evaporou-se lol)

Enquanto nova lenha minha não sai para manter esta fogueira, talvez o mote (um dos poemas fundadores deste blog - e porque também prefiro escrever em poesia, sentiNdo que a prosa são 'finos grãos de areia que me escapam entre os dedos') das minhas próximas linhas (lenha) face às tuas (lenha):

Anónimo disse...

De mim para ti, Fi:

AMAR É SER FELIZ


Quanto mais envelheço,
quanto mais insípidas me parecem
as pequenas satisfações
que a vida me dá,
mais claramente compreendo
onde devo procurar a fonte
das alegrias da vida.

Aprendi que ser amado não é nada,
enquanto amar é tudo.

O dinheiro não é nada,
o poder não é nada.

Vejo tanta gente que tem dinheiro,
poder, e mesmo assim é infeliz.

A beleza não é nada.

Vejo homens e mulheres belos,
infelizes, apesar de sua beleza.

Também a saúde não conta tanto assim.
Cada um tem a saúde que sente.
Há doentes cheios de vontade de viver
e há sadios que definham angustiados
pelo medo de sofrer.

A felicidade é amor, só isto.
Feliz é quem sabe amar.
Feliz é quem pode amar muito.

Mas amar e desejar não é a mesma coisa.
O amor é o desejo que atingiu a sabedoria.
O amor não quer possuir.
O amor quer somente amar


Herman Hesse




sabes o que eu sou levada a crer, enquanto me ponho aqui a matutar, neste preciso segundo?

para se atingir o conhecimento do todo, deve primeiro aprofundar-se 'the taste of the different parts'_mesmo que se cohabite com o dito "pecado" intelectual, não há conhecimento sem a experiência.

(muito lindo muito lindo o blá blá blá pseudo-romântico-utópico que destilei por aí,

mas,

daqui a uns anos,

falamos.)

;)

PS. gostei dos teus poemas.

Dartacão disse...

Sim, Mémé! Na minha modesta opinião, destilaste e desconcertaste as tuas próprias palavras. lol

'Daqui a uns anos falamos?' Acho que há umas semanas, junto a uma parede do Chiado, já o 'começámos a fazer'... Bem dita a hora, noite fora! Que banho e regresso às minhas raízes, onde me sinto em casa, na minha 'Neverland'. Um dia, contar-te-ei como ela é e como sou nela. Para já, digo-te que uso cauda lá. Adorava ter uma cauda cá, sabias? ahah :D

'para se atingir o conhecimento do todo, deve primeiro aprofundar-se 'the taste of the different parts'_mesmo que se cohabite com o dito "pecado" intelectual, não há conhecimento sem a experiência'. EXCELENTE! Como já deves saber um dos meus lemas e mesmo motes deste blog: 'a riqueza nasce da diversidade'. :) Apesar de ter andado a 'teclar' na tua (i)maturidade de forma até oficial aqui, a verdade é que tens uma maturidade que perdi algures, com o tempo. Uma maturidade inata...

Obrigado, Mémé! Obrigado! Por este regresso à inocência, pureza, uma maturidade tão colorida e necessária!

Obrigado.

PS - Ainda assim, mantenho as minhas concepções de amor vs paixão.

Dartacão disse...

:)

lobe u 2, vave! eheh