quinta-feira, agosto 10, 2006

PORTUGAL COSMOPOLITA

Portugal está a ficar um país verdadeiramente vanguardista. Desenganem-se gerações e gerações de intelectuais blasfemos. Encarcerem-se os velhos que, lá sentados no Restelo, mais não merecem que um lar de terceira idade. Não, nada disso!! Portugal é, hoje, verdadeiramente um país cosmopolita capaz de ombrear com outros naquilo que de melhor se faz por esse mundo fora. Quem disse que somos ultraperiféricos? Quem sugeriu sermos atrasados e irremediavelmente "rurais"? Certamente gente de pouca sapiência ou de vontade amaldiçoada. É que os exemplos de modernidade e cosmopolitismio estão aí, um pouco por todo o lado. E não, não são as tertúlias do Chiado nem a arquitectura vanguardista do Parque das Nações. Nem tão pouco o será a banalização de centros comerciais. É muito mais do que isso. É todo um cosmopolitismo feliz e finalmente libertado de atavismos estirpe Santa Comba São/ Capelinha das Aparições. Senão veja-se: ligar a televisão, nas emissões da TV Cabo - por sinal de mensalidade paga - corresponde a ser-se presenteado, num dos canais, com uma "interessante" emissão televisva de uma "igreja" repleta de "pastores" brasileiros que, através de uma argumentação curiosa, tentam convencer o seu rebanho dos "sinais" evidentes da bondade dos ditames da religião, claro está, devidamente por eles interpretados. É que «sí ná súa fámília êxistchi máldádgi, póbrêza, duênça...vóçê naum cónhêci os sináiz di Dêus». Logo de seguida, este cenário infernal descrito em tonalidade tropical, é contraposto a um testemunho "real" de uma portuguesa - tipicamente porteira, provavelmente suburbana, com 2 filhos e um marido que, invariavelmente, não a ama e sofre de alcoolismo - que vem atestar a bondade das soluções propugnadas por aqueles pastores portadores de boas novas lá da terra de Vera Cruz. é que - segundo a respeitável senhora- depois de ter conhecido os "sinais" daquela "igreja" brasileira, voltou a ser amada, a ter as contas pagas e agora - pasme-se quem de direito!!- já tem uma casa com seis assoalhadas e um carro de luxo. A não esquecer: os "sinais" estarão no Estádio do restelo, dia 19 de Agosto, pelas 18 horas. Enfim...
De facto, o cosmopolitismo da sociedade portuguesa é especialmente forte no campo do para-normal. Ontem, incumbido de um espírito verde, fui deitar ao apapelão de reciclagem mais de 50 panfletos. É que o professor Bambo (ou será Bambi?), mais o professor Karamba e o professor Kumbaé (que me perdoem os restantes professores "Ka" qualquer coisa eventualmente olvidados...) têm-se dedicado a, dia após dia, deixarem no limpa pára brisas do meu carro mensagens alusivas aos respectivos dotes de grande vidência que, também dia após dia, vou acumulando no porta luvas à espera de oportunidade de deitar fora. No último, um respeitável cavalheiro de origens claramente africanas, propõe uma ajuda “tipicamente africana” para destruir a inveja, os vícios, a impotência sexual e os problemas financeiros. Com consultório em Lisboa, Faro, Porto e Funchal, com um call center (707204488), o professor bambo garante, também, total eficácia por correspondência assegurando a competente e devida resposta em 48 horas. Então ‘tá bem… Mas as tendências cosmopolitas na sociedade portuguesa não se ficam por aqui – aliás, as incompreendidas “Mães de Bragança” que o digam!! Repare-se, para tanto, na página 54 da edição de hoje do Diário de Notícias: desde logo, com destaque em esquadria azul, temos a “atrevida”, safada e “gostosona” (mais um contributo além Atlântico…) que se diz irresistível (presunção e água benta…) e portadora de acessórios eróticos (tel 914558005). Mais abaixo, temos Beatriz, “pitinha”, corpinho sexy e garganta “funda”. Aliás, diz-nos ainda que “por trás” fica louca….pois…mais informações sobre a sua loucura traseira poderão ser obtidas através do 967558539. Duas linhas depois, a “bela Michelle” clama ter um “pinguelinho avantajado” sendo que, com ela, o anal é natural… Afinal de contas, acaso restará ao caríssimo leitor alguma dúvida do teor moderno e cosmopolita da sociedade portuguesa?
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