quarta-feira, janeiro 24, 2007

EUGÉNIA

Vamos, avó!
Voltar a comprar cassetes
Tocar às
campainhas e fugir
Correr pelos eucaliptais
Ver as vacas à vacaria
Baloiçar e escorregar no parque
Escorregas e baloiças comigo
Enfiar-me num bidão de água
Comer batatas fritas com ovo estrelado
Estorricar pizzas no forno
Apanhar caganeiras de gelado e uvas
Acordar com pastéis de nata
Falar com desconhecidos
Dizer olá ao sol
Coçar o cão vagabundo
Ficar a conversar perante os barcos do lago
Mas não dizes a ninguém!
Os meus avós podem ficar com ciúmes
A minha mãe talvez ralhe
O meu pai…
Não faz mal, agora não está!

Vamos, avó!
Abraçar o mundo com a bondade
Doce Eugenuidade que me ensinaste
Que cedo te traiu e levou.
Desculpa, se eu soubesse…

Vamos, avó!
Minha génia, minha génese!
Vamos puxar o fio do tempo
E matar saudades
Tenta entretê-lo com uma tigelada…

Enfio os chinelos
Os pés são teus
Cabelo sempre espetado
O pijama azul quase roça o chão
Esfrego o olho sonolento
A fechadura é a minha altura
Quem é?
Sorrio e derreto-me
Estico-me para te beijar
Aconchegas-me nos teus braços
Que me trazes desta vez no bolso?
Sempre me levas às vindimas no Norte?

Até já….

(21 Novembro 2006)

8 comentários:

a ortónima disse...

mais um terno sorriso ao ler as tuas palavras de infância e de saudade.

beijo grande.


***

Andre disse...

Meu caro amigo, apesar de ter a leitura deste blog mais ou menos em dia, nunca deixei um comentario... por preguica, por falta de habito, por.. o que quer q seja.

No entanto devo dizer que este teu poema me tocou bastante e q as tuas memorias fizeram lembrar as minhas memorias... e com elas surgiram algumas lagrimas. :)
Muito bonito. Continua a escrever assim.

Dartacão disse...

Ortónima,

E estava eu a teu lado... eheh

Já que não respondi logo, a cores e ao vivo, aqui fica:

:)

Dartacão disse...

Inglês,

Muito me agrada saber que pelo menos lês os trabalhos de casa. Agora, está na altura de recuperares os que não fizeste e não atrasar os futuros. eheh

Uma confissão entre nós: quando acabei de escrever este poema, fiz umas quantas piscinas em casa. Mas já a minha tetravó dizia: as lágrimas limpam a poeira da alma. E o trabalho tira a ferrugem da preguiça! eheheh

Hugzzzz

Anónimo disse...

Adormeceste no dia 10 de Fevereiro de um ano que já esqueci, não sem antes suspirares os parabéns ao teu companheiro de toda a vida e lembrar todos quantos te eram tão queridos.

Adormeceste de mão dada emprestando aquela força vital que sempre emprestaste à vida.

Eugénia, nome de arbusto para quem era flor.

Prefiro-te Eugenésica de uma prol que se orgulha de ti e das tuas acções.

Enquanto (Eu)genearca moldaste-me com a tua forma de emanar amor e carinho; com a simplicidade da tua filantropia e compreensão; com a ajuda à pobreza e tristeza; dando tudo o que se tem quando não se tem nada.

Emprestaste-me a tua sensibilidade e por isso perdi a vergonha de chorar, o teu estoicismo e por isso ganhei a força para lutar contra a adversidade, a tua simplicidade e por isso admiro o trivial, a tua força de vida e por isso luto até à exaustão.

Nasci de ti, sou parte de ti e percorro os teus trilhos porque sei que será sempre o melhor caminho.

Foste citadina por obrigação e aldeã por vocação. A cidade violentou-te e dilacerou-te as entranhas. Retirou-te o doce odor das giestas e o fino cantarolar das ribeiras.

Enquanto o teu corpo percorria a cidade o teu sonho corria para a aldeia. Representavas um papel que não querias num teatro que não desejavas.

Finalmente, juntaste corpo e sonho e repousas tranquila.

Bem hajas!

Dartacão disse...

Que belo comment! No conteúdo, na forma, embora um pouco distante da realidade aqui ou acolá... Mas, sem dúvida, uma grande pequena parte à distância do tempo do GRANDE todo eterno: Eugénia. :-D

Anónimo disse...

poema lindo...deixou lágrimas e nao foi só a ti! faz-me lembrar os meus tempos de criança, lindo poema cheio de sentimento e emoção, nesta tua simples honestidade de dizer o k sentes! Identifico-me com as tuas palavras, consegues levar-me nas tuas emoções, fazendo-me lembrar momentos felizes da minha infância, em sitios recôndidos que pouca gente já ouviu falar e que para mim significa um mundo!

Dartacão disse...

Que bom saber isso, cara amiga (anónima? eheh). Não esperava que o meu poema fizesse reviver memórias de infância a tanta gente. Que se escrevam mais poemas às avós!!! Para a minha e para as vossas, estou certo de que serão pequenos tributos perante a sua grandiosidade. A minha avó era (e é, continuará) gradiosamente... Simplesmente... Encantadora! Talvez a melhor pessoa que conheci até hoje, que não teve a melhor vida, mas que conseguiu o bem do bem e o bom do bom. Era Dezembro, a última vez que falámos... Ao telefone! Desconhecia que a sua vida terrena se esgotava... Lembro-me várias vezes da sua voz, quando percebeu que era eu que lhe telefonava... Lembro-me agora novamente do que senti na altura... Impossível trasnmitir em prosa, ou lírica. Ía vê-la dois dias depois do triste 10 de Fevereiro, mas ela não esperou, por mim não esperou... Acho que quis que eu guardasse como última, aquela doce recordação. Por uma outra pessoa, esperou e precisamente no dia 10 de Fevereiro (do seu aniversário): a bondade, o respeito, a consideração para quem nem sempre foi bom, nem sempre respeitou, nem sempre considerou... A mais pura, simples e encantadora forma de ser! Quando fôr grande, quero ser como ela foi, como ela é... Adoro-te, avó!